O desafio global da democracia

Bandeira do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (NATO)
Quando a terceira onda democrática global estourou no último quarto do século XX — iniciada com a Revolução dos Cravos em Portugal e depois alastrada com a queda do Muro de Berlim — houve muita euforia de que a ordem liberal houvesse finalmente se sobrepujada de forma definitiva ao autoritarismo e totalitarismo. Todavia, os ventos trazidos por este início de século voltou a reafirmar que a luta por liberdade permanece um tema urgente.
O campo geopolítico vem mostrando uma interessada movimentação entre os atores. Volume, complexidade e capacidade de financiar infraestrutura são elementos trazidos pela economia chinesa ao mesmo tempo em que consubstanciar a dependência europeia ao gás russo constituem fatores que têm provocado deslocamentos nos espaços de poder global em favor de regimes autoritários. E uma das consequências trazidas pela ampliação da influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre a região do Leste Europeu foi jogar a comunidade internacional numa diplomacia titubeante.
O protagonismo de regimes iliberais vem se tornando realidade em razão de que a insatisfação com o desempenho da democracia cresceu a um nível global sem precedentes. E se não bastasse o problema da desconfiança institucional, que afeta frontalmente a aplicação de políticas públicas eficazes, agora há também uma onda crescente de desconfiança nos processos eleitorais. Aumentaram-se o número de mal perdedores ao mesmo tempo em que desacreditar e desestabilizar as eleições passou a ser uma estratégia eleitoral vantajosa.
A episódica invasão da Ucrânia é a materialização simbólica do poder de avanço do autoritarismo sobre a democracia. Tomadas de posições estratégicas como esta vêm se conflagrando em um momento nos qual os líderes das mais importantes democracias ocidentais batem cabeças sem saber como agir. Respostas contundentes dadas a estes desafios descortinarão a capacidade de resiliência da democracia diante do vertiginoso aumento no volume autoritário global.
Publicado em Zero Hora, em 04 de março de 2022.