A política que deveria existir X a política que existe
Maquiavel e Kautitya, dois dos maiores pensadores do realismo político deixavam claro que prender-se ao mundo que deveria existir em detrimento daquele que realmente existe era sem dúvida a razão central de muitos fracassos na política. Não que deixassem de reconhecer uma natureza boa no ser humano, mas porque no mundo da prática política a ética se orienta não pela normatividade da moralidade social, e sim pela dinâmica derivada do conflito direto e indireto dos mais diferentes interesses.

O aumento da fragmentação partidária (30 partidos) na Câmara, a perda precoce de um dos seus principais articulistas, Gustavo Bebianno, e a dificuldade em blindar o Planalto do avanço nos escândalos envolvendo candidaturas laranja do PSL constituem eixos centrais para entender a escalada do custo para se governar que a administração Bolsonaro enfrenta. Este cenário justifica parte de sua fraca aprovação trazida pela pesquisa CNT/MDA (38,9%), a pior avaliação de inicio de governos do período pós-redemocratização.
Um cenário como este empurra o governo para a necessidade de intensa articulação e negociação com o legislativo federal e lideranças estaduais. A sinalização dada reporta que uma tramitação mais tranquila da reforma da previdência envolve barganhas rotineiras como emendas e nomeações federais em cargos nos estados. No entanto, outro nó explorado é o da fragilidade da composição ministerial. Ernesto Araújo, Damares Alves e Ricardo Vélez são tidos como fracos e fontes causadoras de instabilidade.
Outros pontos ainda precisam ser destacados: a nomeação da imprensa como inimiga, o ranqueamento na diplomacia e os constantes estresses e choques institucionais seguem a cartilha da narrativa populista da direita internacional pensada por Bannon, mas são profundamente desgastantes e, na maioria das vezes, indefensáveis em um contexto nacional de disputa política. O slogan “mais Brasil, menos Brasília” deixa de fazer sentido quando se desce para a arena de poder que realmente existe.
Publicado em Zero Hora, em 12 de março de 2019.