"Os sábios estudam os livros, os políticos estudam os homens." - Balzac

Bolsonaro é hoje uma realidade

Bolsonaro é hoje uma realidade

Não chamarei de fenômeno, pois seu crescimento tem-se mostrado previsível desde que os avanços das últimas investigações de combate à corrupção fragilizaram um já flagelado espaço político. Jair Bolsonaro (PSC?) é hoje uma realidade não somente pela capacidade de crescimento em pesquisas, a tal ponto de supostamente dividir a atenção em um cenário de segundo turno com Lula (PT), mas também pela sua capacidade de criar fatos políticos retroalimentáveis e fortemente reverberáveis.

Ele e sua equipe, sob inspiração da eleição de Trump nos EUA, encontraram uma brecha valiosa para deslocar capital político. A Geração Z é seu alvo principal, não somente por serem nativos digitais e possuírem grande capacidade de alcance e penetração em redes sociais com likes e engajamento de sobra, mas porque é aquela faixa que se mostra vulnerável e inclinada a uma leitura alternativa dos fatos já transformados em história.

O último barômetro latinoamericano cravou 6% e 10% apenas de confiança aos partidos políticos e ao Congresso Nacional, respectivamente. A pesquisa do DataPoder360 de julho desenhou a gravidade da situação ao mostrar que 51% e 56% da população rejeitam sistematicamente candidatos tucanos e petistas. O governo Temer (PMDB), segundo a última pesquisa do IBOPE, tem 3% apenas de avaliação positiva. Sinais mais claros de falência das lógicas tradicionais de legitimação dos políticos profissionais, impossível. O que, contudo, impressiona nessa conjuntura crítica para a elite política é que ela não percebeu a mudança nas dinâmicas de sobrevivência que doravante estão colocadas à disposição.

Diante desse cenário, engana-se quem acredita que diante de um debate nacional Bolsonaro derreteria como margarina em chapa quente quando confrontado com a primeira pergunta desconcertante acerca de sua visão de mundo. Alguém já parou para refletir que parcela considerável da sociedade quer ouvir apenas uma frase moralizadora de salvação? Quem ainda não o fez basta examinar a estridência com que temas simples têm sido pautados raivosamente no debate público.

Artigo publicado em Zero Hora, em 18 de outubro de 2017.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *